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Questões Sexuais na Esclerose Múltipla 07/08/2006

Posted by Esclerose Múltipla in Espaço médico, Qualidade de vida.
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ROGÉRIO DE RIZO MORALES

As disfunções sexuais são distúrbios muito freqüentes, e que acarretam importante impacto na qualidade de vida das pessoas. Acometem entre 20 e 51% de homens e 15 a 43% das mulheres na população geral. Em portadores de EM, a ocorrência é ainda maior, estando presente em 70 a 90% dos homens e 55 a 75% das mulheres.

MECANISMOS NEUROLÓGICOS DA FUNÇÃO SEXUAL

O controle da sexualidade é realizado através de determinados centros cerebrais, que recebem informações dos órgãos dos sentidos e de regiões límbicas (relacionadas com a emoção), enviando estímulos para os centros medulares, que, por sua vez, controlam os órgãos efetores da resposta sexual. De modo geral, a libido e o comportamento sexual dependem de fatores psicológicos e da função dos centros cerebrais, enquanto a integridade da medula espinal e dos nervos periféricos é fundamental para a resposta sexual normal.

Na medula, existem dois centros responsáveis pela resposta sexual: um centro situado na transição entre a medula torácica e a lombar, formado por neurônios simpáticos, e outro situado na medula sacral, formado por neurônios sensitivos, motores e parassimpáticos. No homem, a ereção depende dos dois centros: o simpático, responsável pela chamada ereção psicogênica, e o parassimpático, responsável pela ereção reflexa. A ejaculação depende fundamentalmente do centro simpático, e, consequentemente, dos centros cerebrais. Na mulher, de forma semelhante, o comportamento sexual e o aumento da sensibilidade nos órgãos genitais podem ser provocados por fatores emocionais ou por estimulação das zonas erógenas. Dessa forma, aumenta o fluxo sanguíneo vaginal, provocando lubrificação e ereção do clitóris.

TIPOS DE DISFUNÇÕES SEXUAIS

As disfunções sexuais na EM podem ser divididas em primárias (resultado direto de lesões neurológicas relacionadas ao sistema genital), secundárias (resultado de sintomas não relacionados diretamente com o sistema genital) ou terciárias (resultado de problemas culturais e psicosociais relacionados à doença e que, de alguma forma, interferem com a função sexual). Essa divisão é apenas didática, pois é muito comum encontrarmos pessoas com mais de um tipo de disfunção associados.

As disfunções primárias mais comuns são a diminuição ou perda da libido, sensibilidade diminuída nos órgãos genitais, dores ou parestesias nos órgãos genitais, e dificuldade em atingir o orgasmo. Entre os homens, devemos destacar a disfunção erétil (que acomete entre 60 e 80% dos homens com esclerose múltipla, tem origem em lesões medulares, mas está muito relacionada com fatores psicológicos) e a diminuição de força e/ou frequência das ejaculações. Nas mulheres, as disfunções primárias mais comuns são a diminuição ou perda da lubrificação vaginal, a redução do tônus muscular vaginal e a diminuição da ingurgitação do clitóris.

Entre as disfunções secundárias, destacamos a espasticidade (principalmente em membros inferiores), fadiga, fraqueza muscular, incontinência urinária e/ou fecal, dores e parestesias, tremores, distúrbios de atenção e concentração e alterações comportamentais.

As disfunções terciárias se relacionam principalmente com o impacto da doença sobre a auto-estima, vida pessoal, profissional e social, podendo levar a problemas emocionais, que interferem com a sexualidade, além do impacto da doença sobre o parceiro, principalmente quando ele se torna o cuidador.

TRATAMENTO DAS DISFUNÇÕES SEXUAIS

O tratamento é indicado de acordo com cada caso. Na disfunção erétil, o tratamento de escolha atual são os inibidores da fosfodiesterase 5 (sildenafil, vardenafil, taladafil), de ação local, seguros e práticos, de administração oral. Podem ser utilizados também a apomorfina (via oral), papaverina (intracavernosa), alprostadil (intracavernoso ou na forma de pellets intrauretrais), bombas de vácuo e próteses.

No ressecamento vaginal, orienta-se para a estimulação dos órgãos genitais, além da utilização de lubrificantes vaginais não irritativos. Em casos de fraqueza da musculatura do assoalho pélvico, indica-se fisioterapia. Para espasticidade, orientamos a exploração de posições confortáveis e prazerosas, e, quando necessário, podem ser utilizados relaxantes musculares (baclofeno, e toxina botulínica).

Pacientes com fadiga podem programar relações sexuais para o período do dia no qual o sintoma é menos intenso (na maioria dos casos, pela manhã), além de fisioterapia e medicamentos (amantadina, pemolina etc). Na incontinência urinária, o paciente é orientado para realizar o esvaziamento da bexiga antes do ato sexual (se necessário, com o uso da cateterização intermitente) e, eventualmente, medicamentos (oxibutinina, amitriptilina, etc). Em pessoas com dores e/ou parestesias, podem ser utilizados alguns medicamentos (amitriptilina, carbamazepina, gabapentina), mas com critério, pois quase todos interferem diretamente com a função sexual.

Em qualquer caso de disfunção sexual, são fundamentais conversas francas entre o casal sobre as dificuldades de cada um, com vistas a melhorar a satisfação sexual de ambos. Assim, há a possibilidade de se programar as relações, permitindo a preparação anterior dos parceiros e do ambiente, de modo a minimizar os impactos da doença sobre o ato sexual.

Além disso, é importante falar abertamente sobre eventuais problemas sexuais com o médico, e, em muitos casos, o acompanhamento com psicólogo ou terapeuta sexual é indispensável.

A EM não afeta diretamente a fertilidade de homens e mulheres, portanto o planejamento familiar deve ser considerado, inclusive com a utilização de métodos contraceptivos. Mulheres que desejam engravidar devem conversar com seu médico sobre os efeitos teratogênicos dos medicamentos.

Fonte: BCTRIMS IV – Encontro BCTRIMS-Portadores. BCTRIMS News nº 06 – Ano 04 – Jan/2004